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Maysa Polcri
Publicado em 3 de outubro de 2025 às 19:00
O deputado estadual Binho Galinha (PRD) está preso em Salvador após se entregar ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) nesta sexta-feira (3). Ele estava foragido desde quarta-feira (1º), quando foi alvo da operação Estado Anômico, que investiga uma organização criminosa com atuação em Feira de Santana. A defesa do parlamentar nega que ele tenha cometido crimes e diz que Binho Galinha tem colaborado com as investigações. >
Binho Galinha se entregou ao MP-BA em Feira de Santana e foi conduzido pelo Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) para Salvador, onde está preso. Além dele, a esposa, o filho e outras oito pessoas, incluindo quatro policiais militares, também foram presos. >
"O parlamentar reforça que tem colaborado com as autoridades desde o início das investigações e reafirma sua confiança na Justiça, destacando que todos os fatos serão devidamente esclarecidos ao longo do processo", diz a nota enviada pela defesa do deputado. >
"Binho Galinha também ressaltou que continuará prestando todas as informações necessárias e confia que a verdade será restabelecida, reafirmando o compromisso com o devido processo legal", completa. Na noite de sexta-feira (3), uma segunda nota, dessa vez assinada pelos advogados Gamil Foppel e Robson Oliveira da Silva, foi divulgada.>
Os advogados afirmam que a ordem de prisão contra o deputado foi proferida por autoridade judicial incompetente para julgar o caso. A defesa afirma ainda que o parlamentar não esteve foragido. "Todas as medidas judiciais cabíveis serão tomadas para restabelecer a legalidade e para que os responsáveis por todos os abusos e pelas ilegalidades cometidas sejam devidamente responsabilizados", afirma. >
Binho Galinha é apontado como líder de organização criminosa com atuação principalmente na região de Feira de Santana. Segundo investigações das operações 'El Patrón' e 'Estado Anômico', o grupo criminoso é responsável por delitos como lavagem de dinheiro, obstrução da justiça, jogo do bicho, agiotagem, receptação qualificada, comércio ilegal de armas, usurpação de função pública, embaraço a investigações e tráfico de drogas.>
"A defesa do Deputado Estadual KLÉBER CRISTIAN ESCOLANO DE ALMEIDA “BINHO GALINHA”, vem a público, por meio de sua defesa técnica, prestar os seguintes esclarecimentos a respeito dos fatos recentemente veiculados na imprensa.
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1. O Deputado jamais esteve foragido. Prova irrefutável disso é que, mesmo com a prisão decretada desde o dia 19 de agosto, compareceu espontaneamente por duas vezes ao fórum, já no final do mês de setembro, sem que qualquer autoridade o prendesse. Sua intenção sempre foi colaborar com a justiça. Isto é a prova irrespondível que risco algum existe para o processo.>
2. A decisão que decretou a prisão preventiva é manifestamente nula. Foi proferida por autoridade judicial absolutamente incompetente para julgar o caso. A Lei de Organização Judiciária prevê que para esta matéria somente a 2ª Vara Criminal de Feira de Santana/BA teria competência para o processamento, fato que, inclusive, foi reconhecido pela própria magistrada na audiência de custódia, que pretende superar e revogar a lei, ao fundamento de um ato de designação do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.>
3. A decretação da prisão de seus familiares (pai, mãe e irmão) é uma ação desproporcional e desumana. A medida resultou no completo desamparo de uma menor de 11 anos, configurando um ato que atenta gravemente contra a dignidade humana, fazendo letra morta o princípio da proteção integral previsto noEstatuto da Criança e do Adolescente.>
4. A ordem de prisão foi expedida sem qualquer fato novo que a justificasse. A decisão ignora e contraria frontalmente duas decisões anteriores do Superior Tribunal de Justiça. A 1ª Vara de Feira de Santana, além de sepultar a inviolabilidade prisional, ainda age como instância revisora do Superior Tribunal de Justiça.>
5. A operação da última quarta-feira foi marcada por excessos e ilegalidades. Houve divulgação em tempo real de vídeos das prisões, com claro propósito de espetacularização, além do uso de algemas em desacordo com a Súmula Vinculante nº 11 do Supremo Tribunal Federal, fatos que já foram comunicados formalmente ao Ministério Público, com pedido de providências de investigação.>
6. A instauração de um novo inquérito policial para “aprofundar a investigação de fatos pretéritos” apenas corrobora a ausência de provas, a franciscana pobreza probatória do acervo que foi produzido. Com a instrução processual da denúncia original já em fase final, tal procedimento é um artifício que demonstra a fragilidade e a inconsistência das acusações, acusações e narrativas que não resistem a qualquer exame cuidadoso.>
7. O Deputado Kléber Cristian Escolano de Almeida e seus familiares reafirmam sua plena inocência e não se curvarão diante do que se configura como uma evidente perseguição.>
8. Todas as medidas judiciais cabíveis serão tomadas para restabelecer a legalidade e para que os responsáveis por todos os abusos e pelas ilegalidades cometidas sejam devidamente responsabilizados.>
9. Reafirma a sua crença em uma Justiça técnica, imparcial, que, de forma verdadeira e genuína, cumpra sua missão constitucional de julgar as pessoas em razão dos fatos">
Binho Galinha
Em coletiva de imprensa na quarta-feira (1º), o delegado da Polícia Federal, Geraldo Almeida, falou sobre o caso. "Verificamos que os investigados estavam praticando o comércio ilícito de armas de fogo, como também havia investigado associado para o tráfico. Há diversas razões que levaram ao decreto de prisão preventiva dos investigados", disse. Segundo ele, os detalhes não podem ser divulgados para não prejudicar as investigações. >
O parlamentar foi denunciado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), em fevereiro, como chefe de uma organização criminosa que atua na região de Feira de Santana há mais de uma década.>
Em junho deste ano, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) anulou os efeitos da operação El Patrón, que teve como alvo o deputado estadual. A decisão foi tomada pelo ministro Joel Ilan Paciornik, relator do caso. Porém, em agosto, uma decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), reverteu a decisão.>
Binho Galinha é suspeito de liderar milícia
Kléber Cristian Escolano de Almeida, conhecido como Binho Galinha, é natural de Milagres, no interior da Bahia, e foi eleito deputado estadual em 2022. Ele recebeu o apelido após se mudar para Feira de Santana, segunda maior cidade do estado, onde trabalhou em um abatedouro de galinhas.>
Essa não é a primeira vez que o deputado está envolvido em suspeitas relacionadas à milícia no seu estado. Em 2023, o parlamentar foi apontado como líder da quadrilha investigada pela operação El Patron, também da Polícia Federal. O grupo é suspeito de ligação com lavagem de dinheiro por meio do jogo do bicho, agiotagem, extorsão, dentre outros ilícitos.>
Já no ano passado, Binho foi centro da operação Hybris, que também investigava uma milícia supostamente liderada pelo parlamentar. Na época, sua esposa, que já havia sido presa e colocada em domiciliar, voltou à prisão.>
A operação desta semana realizada de forma conjunta pelo Ministério Público da Bahia, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco); pela Polícia Federal, Receita Federal e pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), através da Força Correcional Integrada (Force) e da Corregedoria da Polícia Militar.>
Em nota, a presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), deputada Ivana Bastos, disse que, assim que a Casa Legislativa for oficialmente notificada, adotará as medidas internas cabíveis, em observância à Constituição, às leis e ao Regimento Interno. Segundo ela, o Conselho de Ética será acionado para analisar o caso de forma objetiva.>