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Wendel de Novais
Publicado em 29 de outubro de 2025 às 10:29
A megaoperação deflagrada nas bases do Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, trouxe à tona de forma explícita o intercâmbio criminoso entre o Rio e a Bahia.Entre os mortos está o baiano Júlio Souza Silva, 26 anos, natural de Salvador, que era liderança da facção no Vale das Pedrinhas e usava o emblema da bandeira da Bahia em fuzil que utilizava na capital fluminense. >
Além de Júlio, outros três baianos também foram alvo da operação, tendo sido presos em ação conjunta de segurança. Entre eles, estão dois foragidos de Canavieiras — Marlon Niza Júnior, com mandado pela morte de um casal em 2021, e Rauflan Santos Costa, procurado por tráfico de drogas — que foram capturados após invadir uma casa na Vila Cruzeiro. >
Traficante baiano foi morto em megaoperação no Rio
A cooperação entre os estados evidencia um padrão já revelado pelo CORREIO: a saída de criminosos da Bahia rumo ao Rio e o abrigo de lideranças fluminense em território baiano. Chefes baianos do CV, inclusive, já foram rastreados na Rocinha, na Maré e em outras favelas cariocas, atuando de forma remota no crime. >
Em Salvador, por exemplo, o traficante Rodolfo Borges Barbosa de Souza, conhecido como “Barão do Tráfico”, liderava abastecimento de armas para o CV a partir da Rocinha e exportava munições para a Bahia, antes de ser preso. A investigação identificou uma rota que vinha do Leste Europeu, via Paraguai, chegando ao Rio e depois à Bahia. >
De modo inverso, o Rio também tem sido palco de refúgio para criminosos baianos. A reportagem cita o caso de Anderson Souza de Jesus (vulgo “Buel”), ligado ao CV na Bahia, que teria se escondido no Complexo da Maré comandando ataques em Salvador. >
Traficantes em intercâmbio entre Bahia e Rio de Janeiro
O CV passou a utilizar o território fluminense como base logística – com facilidades como a densidade de favelas, a alta população e suposta fragilidade das ações de inteligência –, para coordenar atividades voltadas à Bahia com traficantes foragidos que ali se escondem. >
A prisão dos dois baianos de Canavieiras demonstra, ainda, que a rede de influência já alcança o interior do estado. O deslocamento de foragidos da Bahia para o Rio, ou vice-versa, se dá tanto para buscar proteção quanto para movimentar armas, drogas e capitais de lavagem. >
Veja alguns dos locais onde o Comando Vermelho está na Bahia>
Salvador >
Em 2025, a atuação do Comando Vermelho (CV) em Salvador se mostrou intensa em diversos bairros da cidade, com confrontos, invasões e operações policiais registradas ao longo do ano. No bairro de Tancredo Neves, traficantes do CV chegaram a interromper o transporte coletivo, tomando um ônibus como demonstração de força.>
Em Fazenda Coutos, a facção promoveu uma invasão para confronto com rivais, resultando em tiroteios e pichação de paredes, enquanto em Vila Verde, na localidade de São Cristóvão, outro confronto entre CV e facção rival deixou uma mulher ferida.>
Nos bairros de Cosme de Farias e Vila Laura, a polícia realizou operações específicas devido à presença consolidada da facção, e em Castelo Branco, membros do CV invadiram o bairro, picharam residências e exibiram armas em um desafio aos rivais >
Caraíva >
No distrito de Caraíva, o Comando Vermelho consolidou presença através de ações de violência não só contra facções rivais, mas também com forte impacto sobre comunidades locais e indígenas. >
Em julho foi revelado que, numa operação em Caraíva, cinco integrantes da facção morreram e seis foram presos, sendo que entre os mortos estava o traficante Gabriel Lima da Silva, conhecido como “Cobrinha”, que participou de sequestro e esquartejamento de jovem em Eunápolis.>
Em agosto, a investigação apontou que no distrito de Nova Caraíva a auxiliar de cozinha Raiane Bispo Santana, de 30 anos, foi executada por suposta retaliação do CV por atuação de rivais em Itaporanga, o que evidencia a extensão da atuação da facção na localidade e a escalada da violência.>
Raiane Bispo Santana foi executada em Nova Caraíva
Eunápolis >
No município de Eunápolis, no Extremo‑Sul da Bahia, o CV vem atuando de modo cada vez mais ostensivo ao longo de 2025, com casos que evidenciam desde homicídios brutais até o controle de estruturas penais. >
Em maio, por exemplo, o motorista de aplicativo Weverton Antônio dos Santos, de 28 anos, foi sequestrado e esquartejado após ter ingressado numa localidade onde o CV possui forte presença. No crime, achavam que ele era informante da polícia e, por isso, os executores mandaram vídeo da vítima mutilada com a frase “Tome aí seu X9”. >
Weverton Antônio dos Santos
Em julho, ocorreu a prisão de Wanderson Oliveira dos Santos, apontado como líder do CV em Eunápolis e responsável por tentativas de homicídio contra o diretor do presídio local e policiais militares. Ele exibia perfil midiático nas redes sociais, usando armas e ostentação para impondo poder dentro do crime organizado regional.>
A estrutura criminal também se infiltra no sistema prisional da cidade: em julho de 2025, uma ex‑diretora do presídio de Eunápolis, Joneuma Silva Neres, foi denunciada por facilitar a fuga de detentos do PCE/CV, tendo recebido pagamentos de cerca de R$ 1,5 milhão pela atuação. >
Joneuma Silva Neres
Recôncavo Baiano >
No Recôncavo, a facção vem expandindo e consolidando presença em municípios estratégicos, com confrontos diretos, disputas de território e ameaças explícitas. Em 6 de outubro, a “Tropa do CV” divulgou comunicado declarando que pretende tomar os municípios de Cachoeira e Muritiba, ambos no Recôncavo, até então controlados pela rival Bonde do Maluco (BDM).>
Nessa disputa, a Tropa do CV — formada por grupos chamados “Javali”, “Mago” e “Urso” — já teria conquistado cidades vizinhas como São Félix e agora mira avançar sobre Cachoeira e Muritiba. A presença crescente da facção provoca tensão em localidades históricas e turísticas, levando autoridades a reconhecerem que a segurança pública da região está sob pressão. >
BDM proíbe a circulação de moradores entre cidades