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Questões do Enem são testadas antes da prova; saiba como é o processo

Reportagem do CORREIO virou questão do exame mais importante do país no último domingo (9)

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 15 de novembro de 2025 às 05:00

Jornalista Thais Borges respondeu questão do Enem que teve como base reportagem que ela escreveu
Jornalista Thais Borges respondeu questão do Enem que teve como base reportagem que ela escreveu Crédito: Reprodução

A jornalista Thais Borges, repórter deste jornal, já havia lido diversos enunciados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) até se deparar com a questão de número 48 da prova de Ciências Humanas, no último domingo (9). Daí veio a surpresa. A pergunta foi feita com base em uma reportagem que ela escreveu e foi publicada pelo CORREIO, em 2021. Mas como uma matéria de quatro anos atrás se transformou em questão da prova mais importante do país? 

Antes de tudo, é preciso saber: até a aplicação das provas, há um longo - e sigiloso - processo para que as perguntas que serão respondidas por milhares de candidatos sejam selecionadas. Uma série de procedimentos precisa ser seguida, entre eles, a testagem das questões em escolas e faculdades de todo o país. 

Reportagem sobre apagão foi publicada em 2021 por Reprodução

Todas as 180 perguntas são elaboradas por professores escolhidos através de chamada pública do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). É o órgão que determina a matriz de referência e o guia de elaboração, que fazem com que as questões tenham "cara" de prova do Enem. Depois de criadas, as perguntas ainda são revistas por revisores e especialistas do Inep. 

Mas não para por aí. Os itens, após a aprovação, são incluídos no Banco Nacional de Itens (BNI). É deste banco que saem as perguntas que fazem parte do processo de pré-testagem.Para garantir que nenhum candidato seja beneficiado, o processo é sigiloso e os alunos não sabem que estão respondendo futuras questões do Enem. De acordo com o Inep, durante a testagem são avaliados parâmetros como dificuldade, o grau de discriminação e a probabilidade de acerto ao acaso da questão.

É com base nesses resultados que o Inep faz a "calibragem" das perguntas, o que permite estipular os níveis de dificuldade. Assim é possível colocar em prática a Teoria de Resposta ao Item (TRI) - modelo de correção da prova que avalia o parâmetro de respostas dos candidatos e diminui a possibilidade de beneficiar aqueles que "chutam" as respostas corretas. 

A prática

A coordenadora de Avaliação Educacional do Bernoulli Educação, Maíra Miranda Portela, explica que o banco de questões é grande e diverso, o que permite que questões elaboradas em anos anteriores sejam cobradas em provas deste ano. A questão de Ciências Humanas que teve como base uma reportagem do CORREIO pode ter sido feita, portanto, no ano de publicação do texto, em 2021. 

"Nós sabemos que o banco é muito grande, então, não quer dizer que uma questão feita neste ano, será cobrada necessariamente nesta edição da prova. Às vezes, ela pode cair na prova daqui a três, quatro anos, e junto com outras de diferentes períodos", explica. Essa medida, explica Maíra Portela, é uma forma de tornar o processo ainda mais sigiloso e seguro. As perguntas que serão utilizadas na prova em novembro devem ser escolhidas até o final do primeiro semestre do ano. 

Como os professores elaboram as questões para o Enem sem saber em qual edição da prova elas serão utilizadas, surgem algumas das principais características do exame: a atemporalidade e a interpretação de texto. Mais de 4,8 milhões de candidatos estavam aptos a fazer a prova neste ano, e, para acertar a pergunta que teve como base uma reportagem do CORREIO, não era preciso ter lido aquela edição do jornal. 

"As questões que têm a 'cara' do Enem trazem temáticas e discussões atuais, mesmo que tenham sido feitas em anos passados. Elas saem daquele básico 'decoreba' e fazem com que os candidatos pensem fora da caixinha", acrescenta a coordenadora de Avaliação Educacional do Bernoulli. 

Do jornal para a prova 

Tão logo chegou em casa após o Enem, a jornalista Thais Borges publicou um vídeo nas redes sociais contando a surpresa de ter encontrado um texto escrito por ela sendo aplicado na prova. A questão usou como base a reportagem intitulada "O fantasma do apagão: pior crise hídrica dos últimos 91 anos traz memórias de 2001" para que os candidatos refletissem sobre produção de energia. Para acertar a questão, era preciso estar atento à interpretação de texto. 

Autora da reportagem e candidata do Enem, Thais Borges comemorou ter acertado a questão assim que foi publicado o gabarito oficial da prova. "Eu já tinha quase certeza de que havia acertado a questão, pelas correções extraoficiais e também porque respondi com muita consciência. Mas a certeza só veio hoje", contou em um vídeo publicado nas redes sociais. A jornalista disse ainda que a pergunta foi uma das últimas a serem respondidas no primeiro domingo de prova. 

Em tom de humor, a jornalista lembrou ainda de um episódio envolvendo o cantor baiano Caetano Veloso. No ano passado, uma canção do ícone da Música Popular Brasileira (MPB) foi utilizada em uma das questões do Enem. Diferente de Thais, Caetano errou quando respondeu a questão que trazia um texto Tati Bernardi com citações de músicas dele. "Caetano é um gênio, mas ele não estava estudando para a prova", diz Thais, descontraída. 

Essa é, com certeza, a maior audiência que eu vou ter na vida. Além das quase 4 milhões de pessoas que fizeram essa prova, ela ainda vai ser muito lida, depois, por professores, estudantes e especialistas

Thais Borges

Jornalista

A situação inusitada foi compartilhada por seguidores de Thais e furou até mesmo a bolha dos leitores locais. A história foi compartilhada por portais de notícias e jornais de todo o país. "Candidata encontra reportagem assinada por ela em questão: ‘Fiquei com medo de errar’", diz o título de uma reportagem do Estadão sobre o caso. "Candidata acha o próprio texto no Enem (e não sabe se acertou a questão)", escreveu o UOL. 

Tags:

Enem Educação