Acesse sua conta
Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Recuperar senha
Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre
Alterar senha
Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.
Dados não encontrados!
Você ainda não é nosso assinante!
Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *
ASSINE

"Caso Eloá": produtoras comentam o crime sob ótica do feminicídio culpabilização da vítima

Filme expõe exagero midiático e falhas na segurança pública que marcaram o caso de 2008; produtoras criticam a culpabilização da mulher

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 16 de novembro de 2025 às 19:17

Documentário Netflix
Documentário Netflix Crédito: Reprodução

O Brasil parou em outubro de 2008 para acompanhar o sequestro de Eloá Cristina Pimentel, de 15 anos, por seu ex-namorado, Lindemberg Fernandes Alves. O caso terminou em tragédia após 100 horas de cárcere em Santo André (Grande São Paulo), com a morte de Eloá e ferimentos em sua amiga, Nayara Rodrigues. Agora, o documentário Caso Eloá: Refém ao Vivo, que estreou na Netflix, revisita o drama sob um olhar crítico.

Dirigido por Cris Ghattas e produzido por Veronica Stumpf, o filme de 1h25 expõe a complexidade do evento, abordando as camadas midiáticas, governamentais e de preparo policial, segundo as realizadoras. O projeto contou com entrevistas de agentes da polícia envolvidos nas negociações, profissionais da imprensa e a família de Eloá.

Feminicídio e a culpabilização da vítima

Um dos focos centrais do documentário é a discussão sobre a violência de gênero. Veronica Stumpf ressalta que Eloá foi assassinada em um momento em que o Brasil ainda não reconhecia legalmente o feminicídio. "Lindemberg não foi julgado como feminicida", pontua a produtora ao Estadão. Cris Ghattas complementa que revisitar a história em 2023, período de recorde de feminicídios no país (que hoje registra quatro vítimas por dia, segundo o Mapa da Segurança Pública de 2025), busca dar voz à adolescente que foi negligenciada.

Documentário sobre 'Caso Eloá' estreou na Netflix nesta quarta-feira (12) por Reprodução

Stumpf critica a narrativa social da época: "Essa menina praticamente foi culpada pela própria morte. Meu compromisso com a família de Eloá sempre foi o de dar voz a ela". A produtora lamenta que, tantos anos depois, ainda se ouça, "de maneira sutil", a culpabilização da mulher pela violência que sofre.

O reality show ao vivo e a falha da negociação

O documentário não apenas repassa os altos e baixos das negociações policiais — incluindo o momento crítico em que, por um erro, Nayara retorna ao cativeiro —, mas também critica o papel da mídia.

O ponto de virada na crise, segundo a análise do filme, foi o momento em que a apresentadora Sonia Abrão entrevistou Lindemberg ao vivo no programa A Tarde É Sua (RedeTV!). O contato teria feito o sequestrador se sentir a "estrela do momento", levando-o a ignorar as autoridades e se comunicar apenas via televisão, estagnando as negociações.

Legado e autocrítica

As diretoras analisam o documentário como uma oportunidade de autocrítica para a sociedade. Cris Ghattas observa que o grande legado do caso foi a regulamentação que hoje limita a atuação da imprensa em sequestros em andamento, visando não prejudicar o trabalho policial.

Veronica Stumpf, contudo, pondera que a cobertura sensacionalista existe porque há um público que a consome. "O objetivo do documentário é fazer a gente rever por que se consome tanto isso de forma tão irresponsável e sem autocrítica."

Para além do crime, o documentário busca humanizar a vítima, utilizando trechos inéditos do diário de Eloá, que revelam seus medos, seus pedidos de ajuda a Deus e seus planos para o futuro. Ghattas conclui que a história é de uma garota que "lutou pela vida até o último segundo, pelo seu direito de dizer não".

Por @flaviaazevedoalmeida com agências