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Flavia Azevedo
Publicado em 29 de dezembro de 2025 às 06:00
O período de festas costuma ser associado a celebrações e alegria, mas para muitas pessoas a chegada de dezembro traz consigo um vazio inexplicável, apatia e frustração. Esse fenômeno, conhecido tecnicamente como Transtorno Afetivo Sazonal (TAS) ou popularmente como depressão de fim de ano, não deve ser confundido com um simples desânimo passageiro. Segundo o psicólogo clínico Bruno Farias, especialista em psicologia cognitiva comportamental, o quadro se diferencia do tédio comum por causar um sofrimento profundo e incapacitante. >
Sinais de alerta e sintomas físicos>
Diferente de um dia ruim que se resolve com descanso, a depressão de fim de ano apresenta sintomas severos que afetam o cotidiano. Entre os principais sinais estão uma agonia física inespecífica, frequentemente relatada como um "aperto no peito" ou "bolo no estômago", além de uma tristeza profunda e desproporcional aos eventos.>
O paciente também pode apresentar:>
• Desregulação emocional: irritabilidade e impaciência aguda.>
• Confusão mental: dificuldade para organizar tarefas diárias e tomar decisões.>
• Alterações no sono: noites de sono intermitente e agitado, em que o indivíduo acorda várias vezes.>
• Isolamento social: abandono de atividades laborais e cancelamento de viagens ou festas por sentir que não conseguirá aproveitar o momento.>
Os três perfis mais vulneráveis>
Embora qualquer pessoa possa ser afetada, o psicólogo Bruno Farias destaca três grupos que apresentam maior predisposição ao transtorno:>
1. Pessoas com histórico depressivo: indivíduos que já lidaram com episódios de depressão em outros momentos da vida.>
2. Luto e memórias afetivas: pessoas que associam as festas a entes queridos que já faleceram, despertando uma dor que pode não ter sido bem elaborada.>
3. Jovens e a "cultura da comparação": adolescentes entre 14 e 16 anos têm sido muito afetados pelo consumo de redes sociais. Ao comparar suas vidas reais com as "vidas épicas" e corpos filtrados de influenciadores em destinos paradisíacos, muitos jovens passam a considerar a própria realidade medíocre, o que gera vergonha e desejo de isolamento.>
O paradoxo do verão brasileiro>
Diferente do Hemisfério Norte, onde o Transtorno Afetivo Sazonal é fortemente ligado ao inverno rigoroso e à falta de luz solar, no Brasil o fenômeno ocorre no auge do verão. Enquanto na Finlândia o quadro chega a atingir 10% da população devido ao isolamento pelo frio, por aqui cerca de 1% dos brasileiros sofre com a depressão justamente no período de maior luminosidade e calor. As causas no contexto nacional são multifatoriais e dependem da história de vida e das interpretações individuais de cada sujeito sobre as festas.>
Tratamento e a importância da prevenção>
O tratamento para a depressão de fim de ano deve ser multidisciplinar, unindo a psiquiatria e a psicologia clínica. A psiquiatria é fundamental para avaliar a necessidade de medicamentos, enquanto a psicologia atua no processo cognitivo, ajudando o paciente a entender e modificar a forma como interpreta os eventos da vida. Em alguns casos, o suporte de nutricionistas e educadores físicos também é recomendado para potencializar o bem-estar.>
O psicólogo alerta que não se deve esperar o agravamento dos sintomas para buscar ajuda. O tratamento preventivo é a melhor forma de fortalecer a saúde mental antes que as datas festivas cheguem. Além disso, é necessário cuidado com o consumo de álcool, que muitas vezes é usado como "válvula de escape", mas pode prejudicar a recuperação e a eficácia de medicamentos.>
Combatendo o preconceito>
Um dos maiores obstáculos para a recuperação ainda é o estigma em torno da saúde mental. "Não precisamos ter vergonha de tratar a saúde mental; uma pessoa que procura tratamento não é inferior nem mais fraca", afirma Bruno Farias. Enfrentar o quadro sozinho é desaconselhável, pois pode levar ao isolamento severo ou ao abuso de substâncias.>
Para entender melhor o funcionamento da mente nesse período, pense na saúde mental como um sistema de navegação de um barco: às vezes, as tempestades de fim de ano são tão fortes que os instrumentos perdem a calibração. O psicólogo e o psiquiatra atuam como técnicos que ajudam a recalibrar a bússola, garantindo que o navegante não precise enfrentar o mar revolto sem direção ou sozinho.>
O conteúdo desta matéria foi extraído do vídeo "Depressão de fim de ano | DrauzioCast", publicado no canal oficial do Dr. Drauzio Varella no YouTube, com a participação do psicólogo clínico Bruno Farias.>
Por @flaviaazevedoalmeida>