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Agência Correio
Publicado em 1 de novembro de 2025 às 11:30
Quando os anões que interpretavam os Munchkins em “O Mágico de Oz” se encontraram pela primeira vez, o impensável aconteceu. >
"Um deles tinha-se embebedado durante o almoço, caído dentro da privada e não conseguia sair”, contou Jack Dawn, maquiador principal do filme, ao The Daily Mail. >
"O Mágico de Oz" (1939)
Esse episódio foi apenas o começo de uma série de confusões envolvendo o grupo, formado por pessoas que vieram de várias partes do país..>
Essas são apenas algumas das histórias lendárias das filmagens do clássico estrelado por Judy Garland, que voltaram a ser comentadas nas redes sociais nos últimos tempos. Hoje, outro grupo de anões também tem chamado atenção: os do live-action de “Branca de Neve”, lançado nos cinemas em 20 de março.>
O novo filme da Disney também gerou controvérsia. Em vez de escalar atores com nanismo, o estúdio preferiu recriar os personagens por meio de efeitos especiais, chamando-os agora de “criaturas mágicas”.>
“Para evitarmos reforçar estereótipos levantados pelo primeiro filme, vamos ter uma abordagem diferente”, afirmou a empresa em comunicado em 2022.>
Mesmo assim, a discussão em torno de “Branca de Neve” empalidece diante das histórias caóticas por trás de “O Mágico de Oz”.>
Muitas vieram à tona em 2017 e circularam pelo mundo, especialmente o relato de assédio sofrido por Judy Garland, revelado por Sid Luft, seu terceiro marido, na autobiografia Judy and I.>
“Os homens eram malvados. Achavam que podiam fazer tudo o que quisessem porque eram pequenos”, escreveu Luft, que morreu em 2005, doze anos antes da publicação do livro. Segundo ele, durante os oito meses de filmagens, Garland foi assediada “centenas de vezes”.>
Para conter os abusos, um assistente de direção foi encarregado de vigiá-los e sua função acabou se expandindo. Caso algum deles fosse preso, precisava ser solto rapidamente sob fiança para não perder as gravações.>
As prisões, aliás, eram comuns. Após um longo dia de trabalho, os atores dos Munchkins seguiam para os bares de Culver City, em Hollywood, e bebiam até perder o controle. “Eram extremamente desordeiros, gritavam e berravam. No dia seguinte, já no set, infernizavam a vida da Judy ao meterem-lhe as mãos debaixo do vestido”, relatou Luft.>
Garland tinha apenas 16 anos e 1,50 metro de altura, o que a fazia parecer ainda mais jovem. Os anões, com estatura semelhante, não hesitavam em provocá-la, mesmo muitos sendo bem mais velhos, alguns ultrapassando os 40 anos.>
Embora o relato de Luft pudesse ser visto como um caso isolado, outros episódios confirmam que o set de “O Mágico de Oz” foi marcado por comportamentos extremos.>
Confinados por meses no mesmo hotel, os anões se envolviam em “orgias sádicas, bebedeiras loucas”, e até em “prostituição e destruição de quartos”. A situação se tornou tão grave que a produção precisou colocar policiais em todos os andares.>
Judy Garland confirmou tudo anos depois, em entrevista ao programa de Jack Paar, em 1967. “Eram bêbedos. Embriagavam-se todas as noites e a polícia costumava apanhá-los com redes de borboletas”, contou. As redes eram usadas para impedir que alguns caíssem do telhado, já que tentavam caminhar cambaleando por lá.>
A atriz também lembrou de um episódio em que saiu para jantar com um dos atores, mas levou a mãe, Ethel Marion Milne, por segurança. “Muito bem, duas mulheres pelo preço de uma”, teria dito o Munchkin.>
Outros membros da equipe também testemunharam os excessos. O produtor Mervyn LeRoy relatou que “havia lutas, orgias e todo o tipo de confusão” diariamente. >
“A polícia de Culver City tinha de ficar no hotel para evitar que se matassem uns aos outros. Tinham poucas inibições a condizer com a sua pequena estatura”, disse ele ao The Times.>
Segundo Bert Lahr, o ator que interpretou o Leão Covarde, essa “loucura” tinha explicação: era a primeira vez que muitos deles conviviam com pessoas com a mesma condição. Antes do filme, alguns “ganhavam a vida a mendigar, a prostituir-se ou a serem chulos”.>
Ele contou ainda que assistentes precisaram vigiar o grupo constantemente, já que alguns “empunhavam facas e frequentemente se apaixonavam por outros membros mais altos da produção”.>
Com o tempo, as histórias se espalharam, mas poucos lembram da versão dos anões. Muitos dos intérpretes dos Munchkins não negaram totalmente os episódios, admitindo que houve festas e exageros, mas afirmam que apenas um pequeno grupo manchou a imagem de todos.>
Entre os mais problemáticos estava Charles Kelley, que apareceu no estúdio armado com duas pistolas após descobrir que Charlie Becker, outro anão do elenco, estava interessado em sua esposa Jessie, também atriz. Kelley foi expulso das gravações.>
Apesar do sucesso do filme, os Munchkins ganhavam muito pouco: 50 dólares por semana, o equivalente a cerca de 800 euros hoje. Era mais do que recebiam fora de Hollywood, mas menos de um terço do salário de Terry, o cão que interpretou Toto.>
A frustração aumentava porque metade desse valor ia para Leo Singer, um empresário alemão que controlava uma trupe de anões nos Estados Unidos e que, segundo relatos, chegou a “comprar” alguns deles dos próprios pais. >
“Nós estávamos revoltados porque não tínhamos uma vida digna. Não fariam o mesmo?”, questionou Priscilla Montgomery Clark, uma das Munchkins, em entrevista à People em 2024.>