Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Ana Beatriz Sousa
Publicado em 25 de abril de 2025 às 11:45
Na última quinta-feira (24), Ney Matogrosso, aos 83 anos, participou do programa Conversa com Bial, onde compartilhou memórias marcantes de sua trajetória artística, especialmente durante os anos de repressão da Ditadura Militar. Ícone da performance e da liberdade de expressão, o artista revelou episódios que evidenciam o quanto precisou resistir para manter sua arte viva. >
Um dos relatos mais fortes foi sobre um jantar em São Paulo, na década de 1970, quando ele e o grupo Secos & Molhados foram convidados, mas receberam uma proibição direta: não poderiam cantar ou dançar, pois “pareciam um grupo de homossexuais”. Ney foi categórico: “Se eu parasse de fazer aquilo, não sabia fazer outra coisa.”>
Na conversa com Pedro Bial, Ney também recordou como o controle sobre os artistas era severo. Segundo ele, era comum ouvirem que não deviam andar nas ruas sem máscara: “Diziam que artista não podia andar na rua. Depois do show no Maracanãzinho, eu estava na praia e só escutava as pessoas comentando sobre mim.”>
Apesar de sempre ter sido tímido, Ney encontrou no teatro um caminho de libertação. “Eu entrava e saía mudo das festas, não dava boa noite, nem a mão. Aquilo me incomodava. Fiz um curso de teatro em Brasília e entendi ali que era isso que eu queria. Não era a música.”>
Mesmo com as barreiras, Ney Matogrosso se tornou uma das vozes mais potentes da música brasileira. É o artista vivo com mais músicas em aberturas de novelas – são oito no total, ficando atrás apenas de Rita Lee. Entre os temas mais marcantes está Quase um Segundo, presente em Vale Tudo.>
Sobre como encara a interpretação de canções já conhecidas, Ney é claro: “Se eu vou cantar uma música que essas pessoas cantaram, eu tenho que oferecer outra leitura. E a leitura, eu faço dentro de mim.”>
A estreia de Ney em aberturas de novela quase não aconteceu. Bandido Corazón, tema de Despedida de Casado, foi sua primeira gravação para uma abertura, mas a novela foi barrada pela censura e nunca chegou ao ar. Uma lembrança a mais do quanto sua arte, ao longo dos anos, sempre esteve na linha de frente da resistência.>