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Ataques, ‘desovas’, moradores em pânico: facções acumulam mortes no Lobato

Bairro é mais violento de Salvador neste ano

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 12 de maio de 2025 às 05:00

Comitiva esteve no Lobato
Comitiva esteve no Lobato Crédito: Tony Silva/Divulgação

Execuções, carros incendiados, corpos ‘desovados’, trocas de tiros e operações policiais. Tudo isso no Lobato entre os dias 2 de abril e o último dia 6. Ou seja, por 35 dias, o bairro foi destaque dos noticiários policiais com a guerra entre o Bonde do Maluco (BDM) e o Comando Vermelho (CV). E não à toa vive uma onda de violência: é considerado o mais violento de Salvador deste ano. De 1º de janeiro até o dia 5 de maio, são 14 mortos, 18 tiroteios e quatro feridos, segundo o Instituto Fogo Cruzado (IFC).

Segundo os moradores, 90% do território do Lobato hoje é controlado pelo BDM. O restante – parte do Boiadeiro, o Coroado, as Casinhas e o fundo da Prainha – é domínio do Comando Vermelho. A facção baiana começou a perder o espaço para a organização carioca há cerca de um ano. Antes disso, as pessoas tinham uma certa tranquilidade.

“O problema era só quando a polícia estava na área, porque os meninos (traficantes) não corriam da briga. Mas com a chegada do Comando Vermelho, a situação mudou. Teve uma época em que era tiro, um dia sim, outro não. Mas infelizmente, a gente se acostuma com o que é ruim", declara um senhor, que vive no Lobato há mais de 20 anos. 

Mas ele faz  ressalva. "Isso não quer dizer que não estamos com medo. Hoje mesmo (quarta, dia 9), a rua estava deserta às 5h, quando, normalmente, a movimentação era intensa de gente indo trabalhar. Todo mundo apavorado”, conta, fazendo referência ao ataque recente do CV, no dia 26 de abril, quando metralharam e atearam fogo em carros. “Quando rolam esses ‘bondes’ (grupo de homens armados), vem o pessoal deles de fora, de Pirajá e Campinas de Pirajá. No dia, só havia pivetes novos, nenhum rosto conhecido”, conta.

De acordo com o especialista em segurança pública, o coronel e professor de Direito Antônio Jorge, o subúrbio é uma área muito disputada. "Pela sua localização estratégica, pelas suas vias de acesso, que permitem não só a questão da fuga, mas da movimentação de drogas e armas”, declara. Ele pontua que "essas ações do Comando Vermelho estão sendo feitas de forma intensa". "Então, eles têm consciência de que essa conquista não vai de uma única vez e nem de vez por todas. Mas deixaram uma mensagem muito clara: que eles não estão para brincadeira e que estão resolvidos a enfrentar o BDM para tomar o território”, completa.  

Desta forma, o Lobato está no topo do ranking como o bairro que teve mais tiroteios em 2025 até o dia 5 de maio, segundo o IFC. Depois dele vem Fazenda Coutos com 17 tiroteios e 20 baleados e Beiru/Tancredo Neves, também com 17 tiroteios e 8 baleados.

Em resposta ao último ataque do CV, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) realizou uma operação no bairro e em quatro unidades prisionais do Complexo Penitenciário da Mata Escura. A ação teve como objetivo cortar a comunicação entre líderes de facção criminosa e suspeitos na rua. O ato que aterrorizou os moradores seria uma resposta do CV à execução do advogado Danilo Cerqueira, cujo corpo foi encontrado no último dia 18, na localidade de São José de Baixo, área reconquistada pelo BDM - ele teria entrado na região em busca de um cliente, que seria uma liderança da organização carioca. 

Opressão 

Apesar da presença do poder paralelo no bairro, parte dos moradores defende a permanência do BDM, porque a organização é mais “bem relacionada” com a comunidade, inclusive promovendo festas. “Claro que ninguém queria nada disso aqui. Se o CV tomar aqui, eu vou embora no mesmo dia. Eles oprimem os moradores, com ameaças constantes e cobrando taxas de tudo e de todo mundo”, diz um jovem.  

Para ele, o tráfico carioca não quer tomar o Lobato. A estratégia seria desestabilizar o rival. “Ultimamente estão atacando e indo embora. Parece que sabem quando o pessoal daqui não está na área. Vêm só para tocar o terror. Antes, aqui eram vários grupos armados, que se uniram e viraram BDM”, conta.  

Carros queimados
Carros queimados Crédito: Reprodução

A fonte aponta um dos motivos de desinteresse do CV. “Aqui tem muita rua e beco. Os caras de fora, quando chegam, se perdem e acabam dando de cara com a Peto (Pelotão Tático da PM), que circula por aqui com frequência. Foi o que aconteceu com os caras de outro dia”, declara, citando as mortes de dois homens na quarta-feira (07), durante ação da Polícia Militar na localidade conhecida como “Corre ou Morre”.     

Ainda de acordo com a fonte, uma das bocas mais lucrativas do BDM no Lobato está na Avenida Pontilhão e numa rua conhecida como “Catingueiro”, onde “tem uma casa abandonada que sai em uma rua e ninguém pega”.  

Para o cofundador e coordenador executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Dudu Ribeiro, "o que está nítido é que Salvador está passando por um momento da mais alta temperatura dessa reorganização dos conflitos ligados ao tráfico de drogas e armas".

"A reorganização das forças locais, interagindo com as forças estrangeiras, vindas de outros estados têm provocado intensificações dos conflitos, que são parte da disputa do mercado, produzidos pela lógica da proibição”, declara Ribeiro, que também é  integrante da rede de Observatórios de Segurança.

Mais violência 

 A polícia encontrou um corpo do sexo masculino com as mãos e pés amarrados no dia 6 deste mês, em túnel que liga o Lobato ao bairro de Pirajá. A vítima ainda apresentava sinais de espancamento.  

No Boiadeiro, os moradores encontram uma mulher morta a tiros no dia 26 de abril. Segundo populares, ela foi “desovada” no local, pois a execução teria ocorrido no Parque São Bartolomeu.  Há cerca de quatro anos, a mãe dela foi assassinada pelo Comando Vermelho.  

Em 06 de abril, Jorge Vagner Costa Almeida, de 21 anos, foi assassinado em frente ao posto de saúde da Rua Voluntários da Pátria. O crime foi registrado na região conhecida como “Corre ou Morre”, uma área marcada por conflitos e insegurança. 

Já no dia 2 do mesmo mês, o corpo de um homem foi encontrado por pescadores que passavam pelas proximidades da ponte que liga o bairro do Lobato ao bairro São João do Cabrito, no subúrbio de Salvador. 

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública (SSPBA), Polícia Civil (PCBA) e a Polícia Militar (PMBA), mas até o momento não teve resposta.