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Rio Vermelho: aconteça o que acontecer, é lá que a jiripoca sempre vai piar

Por que o "Red River" nunca sai de moda e continua sendo o reduto dos intelectuais, dos boêmios e dos inimigos do fim?

  • Foto do(a) author(a) Flavia Azevedo
  • Flavia Azevedo

Publicado em 3 de dezembro de 2025 às 22:33

Festa de Iemanjá já no amanhecer
Festa de Iemanjá já no amanhecer Crédito: Vinícius Harfush

Hypes vêm e vão, mas o Rio Vermelho continua cumprindo a sua vocação. Às vezes com ares de abandono, outras em redescobrimento, essa quintessência soteropolitana não deixa de ser o reduto mais boêmio e culturalmente efervescente de Salvador.

Desde a época do caótico Kalypso (uma casa de rock histórica) e do lendário Rio de Janeiro, passando pelo Póstudo, Extudo e Alambique. Desde antes, quando o Blefe Bar reunia nove entre dez artistas da cidade, até os dias de hoje, tem muita história que, quem viveu, não esquece jamais. É no Rio Vermelho que a jiripoca pia e que a arte, a esbórnia e a gastronomia sempre dão um jeito de nos encontrar.

A Borracharia funciona até de manhã por Divulgação

Começou assim

A lenda fundadora do bairro é a do náufrago Diogo Álvares Correia, o famoso Caramuru, que chegou no início dos anos 1500 à Praia da Concha, ao lado do Morro do Conselho.

Caramuru, que para alguns historiadores significa “moréia/peixe colossal” ou "Filho do Trovão", ganhou fama ao abater um pássaro em pleno voo com um tiro de arcabuz, espantando os tupinambás e tornando-se um elo entre nativos e europeus. Há quem diga que foi ali pelo Largo de Santana que ele formou a primeira unidade familiar brasileira ao casar-se com a indígena Paraguaçu (ou Catarina Álvares).

Séculos depois, a região, que começou com currais e armações de pesca, se consolidou como estância de veraneio para famílias abastadas e, depois, em um reduto de intelectuais e artistas.

Por exemplo, moraram lá os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, que costumavam ser visitados por figuras como Pablo Neruda, Tom Jobim, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. A Casa do Rio Vermelho, hoje transformada em museu, é um dos espaços de cultura do bairro que recebe visitantes de verão a verão.

Noite selvagem

A vocação boêmia do Rio Vermelho é sua alma, manifestada na grande e variável oferta de espaços para todos os bolsos, gostos e diversidades. A noite do bairro é reconhecida como um ponto de encontro, onde turistas e soteropolitanos se misturam o tempo todo. O Largo da Mariquita é um dos principais “points” da região, com bares, o famoso (e delicioso) acarajé de Cira e sempre algum tipo de som.

Já no Largo de Santana (rebatizado como Largo de Dinha) a maior atração é a sequência de bares que ficam abertos até altas horas da noite. Um deles funciona 24h e é destino certo para os muitos inimigos do fim que frequentam a região, assim como A Borracharia que é um lugar pra dançar até de manhã.

O empresário França, garçom conhecido que abriu o próprio negócio, é um dos protagonistas do setor no Rio Vermelho. É dele a Confraria do França, que reúne os frequentadores mais locais e “dinossauros” da cena baiana, em noites que começam e terminam cedo, mas são tão imperdíveis quanto a caipirinha (e as fofocas) que sai por lá.

A efervescência noturna se espalha pela Vila Caramuru (antigo mercado do peixe), transformada em um centro gastronômico, e por diversos restaurantes, como o espanhol La Taperia, que é outra parada obrigatória se a pessoa quiser assistir de camarote ao pôr do sol no "Red River". Porém, o pôr do sol é o mesmo se a pessoa comprar uma cerveja baratinha em um dos depósitos de bebidas e sentar na mureta pra contemplar.

Devoção

Uma das expressões mais contundentes da religiosidade baiana acontece todo ano, no Rio Vermelho. A Festa de Iemanjá, celebrada todo dia 2 de fevereiro, teve início por volta da década de 1920 e ganhou força e popularidade a partir de 1967, ano em que foi oficialmente organizada pelos pescadores da Colônia Z-1.

Nesse dia, milhares de pessoas se reúnem na Casa de Iemanjá para depositar as oferendas que partem em cortejo pelo mar. Em terra, a festa profana cresce de maneira frenética e agora já dura três dias com centenas de eventos públicos e particulares, cheios de paulistas. Eles amam esse programa e não sou eu que vou julgar.

O barulho

Porém, nem tudo são flores. O Rio Vermelho é um dos bairros com o maior número de denúncias de barulho em Salvador. Um problema que vai além da música alta dos bares. Moradores se queixam do barulho de gente, de carros, gritos, discussões e pessoas bêbadas pra lá e pra cá até altas horas, em vários dias da semana. Alguns chamam isso de "doença social".

Além do barulho, a infraestrutura sofre com a falta de estacionamentos suficientes, trânsito caótico e uma quantidade de lixo desafiadora, produzida por todo esse frenesi. A segurança também é uma preocupação, com relatos de que se deve evitar "vacilar na rua" e jamais usar celular em certas áreas. Se a pessoa estiver de bobeira, até os garçons dão dicas de como se comportar.

É problema? É. Mas apesar desses e de outros desafios, o Rio Vermelho continua lá com sua vocação principal e outras delícias que só indo pessoalmente e andando a pé para desvendar. E você? Já é devoto do “Red River” ou a conversão ainda virá?

Por @flaviaazevedoalmeida