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Final do Campeonato de Quadrilhas Juninas agita Periperi e consagra a Luar do Recôncavo

Competição junina realizada na Praça da Revolução, no Subúrbio Ferroviário contou com quase 60 grupos da capital e do interior durante cinco dias

  • Foto do(a) author(a) Alan Pinheiro
  • Alan Pinheiro

Publicado em 15 de junho de 2025 às 21:07

Final do 16° Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas ocorreu neste domingo (15)
Final do 16° Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas ocorreu neste domingo (15) Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

“Em homenagem a São João, o forró já começou”. Na Praça da Revolução, em Periperi, no Subúrbio Ferroviário, uma mistura de músicas tradicionais, fantasias chamativas e uma plateia animada para enfim comemorar os festejos juninos deram o tom neste domingo (15) da final do 16° Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas. Entre o público extasiado e dançarinos com grandes sorrisos, todos tinham o objetivo de disseminar e, principalmente, viver a cultura nordestina.

No fim do dia, a consagração foi para a Luar do Recôncavo, reconhecida como campeã.

"Missão". Essa foi a palavra usada por Luiz Júnior para definir o que é a competição para as quadrilhas participantes. Cada uma das participantes leva um pouco de sua cultura para outros lugares. O coreógrafo e fundador do Império do Forró saiu de Paulo Afonso, no norte da Bahia, e encarou 10 horas de viagem para cumprir a sua missão. Apesar do longo tempo de viagem, “o prazer de se apresentar é muito maior do que o cansaço”, diz.

Ele explica que toda produção demora meses até as apresentações. No caso de seu grupo, a construção do espetáculo começou em outubro do ano passado. Já a execução teve início em janeiro, quando houve o início dos treinos. A priori, começa com apenas dois treinamentos por semana, mas à medida que o dia da apresentação vai chegando, a quantidade aumenta e pode chegar até sete vezes por semana.

Em cinco dias de competição, quase 60 grupos da capital e do interior encantaram o público com enredos suntuosos e coreografias acachapantes. A programação foi dividida em três categorias: Grupo de Acesso, Semi-Especial e Especial. Neste domingo (15), somente os grupos especiais se apresentaram na arena.

Final do 16° Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas ocorreu neste domingo (15) por Arisson Marinho/CORREIO

No último dia do evento, o grupo Arrasta Brasil abriu o dia com uma apresentação antes de mais oito concorrentes ao prêmio de R$ 250 mil se mostrarem ao público. Entre eles, o Forró do ABC, atual campeão. Vale dizer que a quadrilha considerada campeã se torna representante na etapa nacional.

Vindo diretamente de Irará, o Arrasta Brasil pediu para iniciar o dia e teve o pedido atendido. Apesar de não estar incluído na lista das quadrilhas que competiram ao prêmio, o grupo formado por pessoas da Comunidade Quilombola de Olaria não deixou a empolgação dos presentes cair. Muito pelo contrário. Quando o arrasta-pé começou, era clima de Copa do Mundo.

Aos 60 anos, Nice de Sousa era a mais animada entre aqueles que estavam em Periperi. Fundadora da quadrilha iniciada em 2004, ela pediu para não reparar nos pequenos erros cometidos pelo grupo, que ela definiu como humilde e acrescentou que a quadrilha precisou de ajuda para a confecção das roupas. Em ritmo de união e superação, a matriarca do Arrasta Brasil acompanhou o grupo durante toda a apresentação, como uma regente de orquestra. Era ela quem dava ritmo, consertava os figurinos na hora e ajustava os movimentos dos dançarinos.

“Nós somos quilombolas e não é fácil nem nada para estarmos aqui. Não temos dinheiro e o recurso que a gente leva daqui é quase zero, mas é um sonho. Para mim, não existe valor, ninguém me paga uma coisa dessa. Só da gente estar aqui em Salvador mostrando a nossa dança já somos vencedores”

Nice de Sousa, 60 anos

que participou da quadrilha Arrasta Brasil, formada por quilombolas

Às vésperas do São João, o presidente da Federação Baiana de Quadrilhas (Febaq), Carlos Brito, acredita que a competição assume um papel importante para a disseminação da cultura dos festejos juninos, além de democratizar o espaço para a apresentação das equipes. “Vejo como a grande importância é manter viva a tradição das quadrilhas, essa grande simbologia, através desses eventos sendo realizados. Isso faz com que as quadrilhas possam ter espaços direcionados para apresentar seus espetáculos e porque mantém viva essa tradição centenária”, explica.

Desafio é vírgula

Apesar de confessar ter superado as expectativas colocadas para a 16ª edição do torneio, o presidente da Febaq reforçou que as dificuldades financeiras das quadrilhas são um problema persistente. Ele cita a existência de editais públicos direcionados às quadrilhas como uma mudança positiva, mas insuficiente para mudar o cenário.

As dificuldades financeiras não mudam, porque não é barato colocar uma quadrilha em atividade. Primeiro pelo quantitativo de pessoas. Existe a contratação de profissionais, criação de figurino, de adereços, de cenário. É um custo muito alto. Hoje as quadrilhas continuam tentando se virar para trazer esses recursos para dentro

Carlos Brito

Presidente da Federação Baiana de Quadrilhas (Febaq)

Para Núbia Brito, presidente da Fogueira Santa, quadrilha de Camaçari, o financeiro é difícil para qualquer grupo cultural. Na tentativa de contornar o problema, o grupo promove eventos, rifas, bingos e outras atividades para manter a estrutura. Mesmo com todo o esforço para contribuir com a cultura local, a fundadora da quadrilha faz questão de pontuar a responsabilidade dos governos em não deixar essa movimentação morrer.

Apesar da barreira financeira, todos os grupos conseguem mostrar espetáculos de encher os olhos e com uma forte simbologia fora do tablado. A noiva do Império do Forró, Aninha Vitória, explica que muitos dos dançarinos são pessoas de vulnerabilidade social e encontram na quadrilha uma oportunidade de socialização. Com os olhos cheios de lágrimas, mas segurando para não chorar, a noiva conta que este deve ser seu último ano.

“11 anos só de noiva. Nada melhor do que fechar esse ciclo junto com a minha quadrilha junina que me abraçou e me deu tanto acolhimento. Às vezes você tem que parar o seu profissional e vida pessoal para poder conciliar e acaba deixando relacionamentos e o trabalho de lado”, explica. Ainda sem uma definição sobre o futuro e com dificuldade de desapegar, a quadrilheira termina no estilo do São João, com os pés mexendo ao som do forró e um largo sorriso.