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Ana Beatriz Sousa
Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 13:58
Uma fala antiga de Paula Lavigne voltou a movimentar as redes sociais nos últimos dias. Em uma entrevista de 2013 à revista Trip, que foi republicada no Instagram da revista, a empresária e esposa de Caetano Veloso, relembrou o aborto que fez aos 16 anos e defendeu que a decisão sobre interromper ou não uma gravidez deve ser da mulher. “Não acho que cometi crime”, declarou. >
Paula contou que engravidou ainda adolescente e, naquele momento, acreditava que ter um bebê mudaria completamente seus planos e os de Caetano. "Aos 16 anos, eu achava que, se tivesse um filho, ia estragar minha vida, a do Caetano, tudo o que a gente imaginava para o futuro", afirmou. Sem ter como acessar o procedimento de forma legal, ela disse que a própria mãe a levou discretamente para realizar o aborto. "Depois tive filhos maravilhosos. Se alma existe no feto, me desculpe: sou uma pecadora e vou para o inferno. Paciência. Mas não acho que cometi crime. É muito sério ter um filho.">
Na entrevista, Paula também falou sobre sua visão de mundo e sua ausência de crença religiosa, algo que, segundo ela, costuma gerar reação negativa. "Acho que aborto é direito da mulher. E sou ateia. Quando digo isso, parece que estou dizendo que não tenho sensibilidade, que não tenho amor ao próximo. Mas eu simplesmente não acredito em alma, em vida depois da morte. Tenho até inveja de quem tem fé.">
Para a empresária, a discussão sobre o aborto no Brasil está carregada de moralismo e pouco considera a realidade das meninas e mulheres que engravidam sem condições de levar a gestação adiante. "Gostaria que outras meninas tivessem a mesma opção: fossem a um bom hospital, com segurança. Somos obrigadas a ter filho porque a Igreja quer? Não posso aceitar isso", criticou.>
A retomada da fala acontece em um momento sensível para o debate no país. Enquanto mais de 60 nações flexibilizaram suas leis sobre o tema nas últimas décadas, o Brasil continua entre os países com maior restrição. O procedimento é permitido apenas em casos de estupro, risco de vida da gestante e anencefalia do feto e, mesmo assim, o acesso costuma ser barrado na prática.>
Caetano Veloso e Paula Lavigne
No início de novembro, a Câmara aprovou o PDL 3/25, que revoga uma norma do Conanda e dificulta ainda mais a realização do aborto por adolescentes vítimas de violência sexual. O texto ainda precisa passar pelo Senado. Paralelamente, tramita o PL 1904/24, que pretende equiparar aborto ao crime de homicídio.>
O contraste entre legislação e realidade aparece nos dados: quem mais sofre com a criminalização são mulheres pobres, jovens e negras, que não conseguem pagar por um procedimento seguro.>
Na entrevista, Paula ainda falou sobre sua relação com Caetano e o trabalho à frente da associação Procure Saber, responsável por reacender debates sobre direitos autorais e biografias não autorizadas no país. A entrevista completa pode ser lida no site da Trip.>