Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Agência Correio
Publicado em 12 de novembro de 2025 às 18:30
Uma pausa na academia não significa voltar ao zero: a memória muscular pode durar ao menos dois meses e meio graças a adaptações profundas que permanecem mesmo durante longos períodos sem exercícios. >
Um estudo finlandês acaba de mostrar que proteínas-chave dos músculos continuam elevadas mesmo após semanas sem treino, e isso pode explicar por que quem retorna aos treinos recupera massa e força mais rápido.>
Treino caseiro é rapidinho, mas poderoso
A chamada “memória muscular” é a habilidade do corpo de readquirir força e massa com mais facilidade após uma interrupção nos treinos. Por muitos anos, acreditou-se que esse fenômeno estava ligado quase exclusivamente à preservação de mionúcleos, estruturas que permanecem nas fibras musculares mesmo quando o volume diminui. Agora, novas evidências ampliam esse entendimento.>
O estudo, publicado no The Journal of Physiology, revela que a memória muscular não depende apenas da estrutura celular, mas também de alterações moleculares que persistem durante o “destreinamento”. Isso significa que, mesmo enquanto o músculo perde tamanho, ele mantém uma espécie de prontidão para voltar a crescer.>
Essas descobertas ajudam a explicar por que quem volta à academia após férias, lesões ou períodos de pausa tende a recuperar o desempenho muito mais rápido do que um iniciante, mesmo que a aparência muscular tenha mudado.>
Pesquisadores da Universidade de Jyväskylä, na Finlândia, acompanharam 30 voluntários saudáveis que não treinavam musculação regularmente. Entre eles, 17 participaram de três fases consecutivas de dez semanas: treino supervisionado, pausa total e retorno ao treinamento. Os outros permaneceram como grupo controle.>
Em cada etapa, os cientistas realizaram biópsias na coxa dos participantes para medir alterações em diversas proteínas relacionadas à contração e estrutura muscular. O que eles encontraram surpreendeu: algumas dessas proteínas retornaram ao nível inicial após a pausa, mas outras permaneceram elevadas mesmo após 10 semanas sem qualquer exercício.>
Esse comportamento molecular reforça que o músculo mantém adaptações importantes mesmo sem estímulo contínuo, funcionando como um “atalho” biológico que facilita o retorno ao desempenho anterior.>
Segundo especialistas, a pesquisa amplia a compreensão sobre como o corpo se adapta aos treinos. Até agora, a maior parte das evidências focava em mionúcleos e alterações epigenéticas. O novo estudo mostra que proteínas ligadas à contração muscular, ao citoesqueleto e à sinalização de cálcio também permanecem alteradas por longos períodos.>
Isso indica que a memória muscular tem uma base molecular mais complexa e duradoura do que se imaginava. Embora a força e o volume diminuam em poucas semanas sem treino, as “marcas” internas permanecem por meses, e são elas que permitem uma recuperação mais rápida.>
Na prática, isso significa que mesmo quem fica parado por 2 ou 3 meses não perde completamente os ganhos, porque o corpo mantém um tipo de registro biológico pronto para ser reativado no retorno aos exercícios.>
Apesar das perdas iniciais que começam após duas ou três semanas sem treinar, o estudo confirma que a capacidade de recuperação é muito superior ao ganho inicial. Na maioria dos casos, é possível recuperar a força perdida em quatro a seis semanas de treino consistente.>
Esse tempo pode variar conforme histórico de treino. Quem treina há mais tempo tende a ter uma memória muscular mais robusta, com maior número de mionúcleos e alterações moleculares permanentes. Já quem treina pouco até desenvolve essas adaptações, mas de forma menos intensa.>