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Fernanda Varela
Publicado em 4 de novembro de 2025 às 06:05
Mais de duas décadas depois do crime que abalou o país, Daniel Cravinhos, condenado pela morte de Manfred e Marísia von Richthofen, escreveu uma carta pedindo perdão ao ex-cunhado Andreas, irmão de Suzane. O texto, revelado pelo jornalista Ullisses Campbell no jornal O Globo, mostra que Daniel tenta uma reaproximação com quem considera a maior vítima da tragédia.>
Irmãos Cravinhos e Suzane von Richthofen
Daniel contou que vive em São Roque, no interior paulista, a apenas três quilômetros do sítio onde Andreas mora. Disse ter medo de procurá-lo pessoalmente e, por isso, enviou a carta por meio de um amigo em comum. “Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença”, escreveu o ex-cunhado. >
Na carta, marcada por arrependimento, Daniel relembra a antiga amizade entre os dois, cita lembranças de infância e pede “misericórdia”. “Meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso”, escreveu. Ele conclui com um apelo: “Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?”.>
Segundo o jornalista, o amigo responsável por intermediar o contato já havia tentado promover uma ligação entre os dois, mas Andreas teria passado mal ao ouvir a voz de Daniel no viva-voz.>
A reação pública de Andreas veio dias depois, em entrevista ao programa “Tá na Hora”, do SBT. Visivelmente abalado, ele deixou claro que não há chance de perdão. “Não vou servir chazinho para os caras, fica difícil. Marretaram a cabeça do seu pai e você vai dançar ciranda com o sujeito depois?”, afirmou.>
Durante a entrevista, Andreas também comentou sobre a irmã. Disse que tenta contato com Suzane há quatro anos para resolver pendências envolvendo o patrimônio herdado dos pais, avaliado na época em quase R$ 10 milhões. “Ela deveria me procurar, né? Nós temos assuntos, ela tem o dinheiro dela também. Tem que ver o que vai dividir aí do que ficou lá atrás”, disse.>
Suzane foi solta em janeiro de 2023, após cumprir mais de 20 anos de pena, e deu à luz seu primeiro filho em Atibaia, onde vive com o marido, o médico Felipe Zecchini Muniz.>
Andreas, hoje com 36 anos, vive de forma reclusa em São Roque e enfrenta problemas financeiros. Ele responde a mais de 20 ações por dívidas de IPTU e condomínio, que somam cerca de R$ 500 mil.>
Leia a carta na íntegra:>
“Querido Andreas,>
Após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.>
Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.>
Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?>
Veja como está Suzane von Richthofen hoje
Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?>
Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.>
Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.>
Suzane e Andreas von Richthofen
Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.>
Mas, se você preferir manter distância, respeitarei. Apenas desejo saber o tamanho do abismo emocional que nos separa para saber se é possível atravessá-lo. Hoje, serias capaz de me dar o abraço que não aconteceu 22 anos atrás?>
Daniel Cravinhos.”>