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Guerra por mercado e facções em áreas demarcadas: como paraísos turísticos viraram centro de violência na Bahia

Extremo-sul tem sido palco de confrontos e operações da polícia

  • Foto do(a) author(a) Wendel de Novais
  • Wendel de Novais

Publicado em 8 de agosto de 2025 às 05:30

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Extremo-sul virou centro de violência e alvo de operações Crédito: Reprodução

Acostumados a ser tema de matérias sobre destinos no Extremo Sul da Bahia, paraísos turísticos de Porto Seguro como Caraíva têm estampado as páginas dos cadernos policiais nos últimos meses. Na região, a violência se manifesta em guerras entre grupos criminosos, mortes de inocentes e operações policiais para conter o problema.

Uma situação que se desenvolve a partir da chegada do Comando Vermelho (CV), o que acirrou conflitos por um mercado consumidor dos mais lucrativos em relação ao tráfico de drogas, e até do uso de territórios indígenas demarcados, onde as facções dificultam a ação das forças de segurança e cooptam ‘novos soldados’ a partir da atuação de criminosos como o traficante que divulgava fotos com armas nas redes sociais. 

Wanderson Oliveira dos Santos por Reprodução

A prática é confirmada por fonte policial que atua na investigação dos crimes no Extremo Sul. “As facções buscam aliciar indígenas e lideranças para uso de terras demarcadas como pontos estratégicos, já que são lugares com o acesso mais difícil, para esconder armas e integrantes”, diz a fonte, que pede para não ser identificada.

O coronel reformado da Polícia Militar Antônio Jorge Melo explica que a busca por destinos turísticos que concentram festas e turistas de alto poder aquisitivo se tornou o modo de funcionamento de facções que como o Comando Vermelho passam pelo processo de expansão pelo país. Porto Seguro é reconhecido como um dos destinos mais desejados do nordeste e, segundo o coronel, possui o turismo ligado a festas e uso recreativo de drogas durante todo o ano.

"Porto Seguro tem um mercado consumidor enorme e um território localizado em uma região com muitas conexões que facilitam fugas e transporte. Deve-se compreender que as grandes facções passam cada vez mais a serem geridas como um negócio e focam na diversidade na captação de recursos, que envolve do tráfico de armas à internet", aponta Antônio Jorge.

Uma apreensão registrada em Caraíva, que é distrito de Porto Seguro, no fim do mês passado, também comprova as informações. Na ocasião, a Operação Vértice Zero apreendeu cinco fuzis, um rifle calibre 22 e outros armamentos durante o cumprimento de mandados contra investigados por homicídios e tráfico de drogas.

“Essa apreensão aconteceu dentro da terra indígena de Barra Velha, que é um território delimitado. Para nós, é um fato público que as facções estão nesses territórios, buscando não só se esconder em uma área de mata, mas também cooptar novos integrantes, oferecendo um alto risco aos povos originários”, detalha a fonte.

Rafael Rodrigues/SSP por Rafael Rodrigues/SSP

Dentro da polícia, a norma é não falar o nome de grupos criminosos e, por isso, as fontes citam uma facção que vem do Rio de Janeiro. As ações em Porto Seguro e em outros pontos da região como Eunápolis, onde o grupo orquestrou ataques contra o diretor do presídio e homicídios bárbaros não deixam dúvidas de que é o CV.

As invasões da facção são, inclusive, registradas em vídeos acessados no celular encontrado com o traficante Gabriel Lima da Silva, mais conhecido como Cobrinha, que atuava em Caraíva antes de acabar morto em operação. Nas imagens, o CV faz ameaças a inimigos e demonstra a intenção de pegar os pontos de tráfico da região.

O grupo busca se estabelecer no local, mas enfrenta resistência de organizações criminosas locais como a facção Anjos da Mortes (ADM), que passou a ser conhecida no estado após uma operação policial em Caraíva para prender seus líderes. Na ocasião, além da morte de um líder do grupo, um guia turístico virou vítima.

Para outra fonte policial ouvida pela reportagem, as ações do CV e dos grupos locais têm um motivo claro. “A região de Porto Seguro, por ter um alto potencial turístico, é uma galinha de ouro para esses grupos. Então, quem já estava aqui não quer perder e quem quer entrar até manda armamento pesado para conseguir”, explica o policial, que também pede para não ter a identidade revelada ao falar sobre a situação.

Tanto é que, no início desta semana, sete fuzis e mais de dez carregadores que estavam sendo transportados em um carro para Porto Seguro foram apreendidos em Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Segundo a PRF, o motorista confessou que o arsenal, maior apreensão do ano, era para o CV.

Dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública apontam que 37 fuzis foram apreendidos na Bahia no primeiro semestre de 2025. O número é maior do que o registrado no mesmo período de 2024, com 30 apreensões, e 2023, com 22.

Traficantes registravam ataques em vídeos por Reprodução

Fora do paraíso

O conflito no Extremo Sul, no entanto, não se limita apenas aos paraísos. A 60km dali, em Eunápolis, a chegada do CV e a resistência dos grupos criminosos locais causam problemas graves à Segurança Pública. O primeiro sinal de impacto dessa guerra foi a fuga de 16 detentos do presídio de Eunápolis, em dezembro do ano passado.

Na ocasião, traficantes do Primeiro Comando de Eunápolis (PCE), incluindo o líder da organização, fugiram do local. O grupo, no entanto, foi absorvido pela facção carioca. “Por aqui, já não falam em PCE. É CV ou Tudo 2 [referência ao grupo carioca]. Eles absorveram a facção local e orquestraram a fuga”, falou um PM, sem se identificar.

A ação do grupo seguiu a partir da fuga, com o abastecimento de armas e drogas, além da política do medo, que já é característica da facção criminosa. Em maio, por exemplo, o CV sequestrou e matou ao menos três pessoas em um período de 10 dias. O caso mais marcante foi do motorista de aplicativo Weverton Antônio dos Santos, que foi esquartejado após ser interceptado por traficantes em um bairro da cidade.

Weverton Antônio dos Santos por Reprodução

A facção não parou aí e chegou a tentar matar Jorge Magno Alves Pinto, diretor do presídio do município, após ameaçá-lo. Policial penal, Jorge assumiu o cargo de diretor em dezembro de 2024 após a fuga dos 16 detentos da unidade e dificultou a atuação da facção dentro do conjunto penal a partir disso.

A ex-diretora do presídio Joneuma Silva Neres, de 33 anos, foi presa no dia 23 de janeiro deste ano. De acordo com a polícia, além de ter facilitado a fuga – e ter sido exonerada do cargo por isso –, ela teria envolvimento com o grupo e uma relação com Ednaldo Pereira Souza, o Dadá, que é líder da facção,

Segundo as investigações do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Joneuma teria participado da ação pois mantinha relações amorosas com Dadá. Há indícios de que ela concedia regalias aos integrantes do grupo, conforme noticiado pelo CORREIO, além de estar envolvida em um esquema de compra de votos, com o líder do PCE e o ex-deputado federal Uldurico Jr., seu padrinho político.

Ainda segundo as investigações do MP-BA, Joneuma teria recebido R$ 1,5 milhão da facção para ajudar na fugar dos detentos e planejava fugir para o Rio de Janeiro. As ações do grupo na cidade vão se acumulando. A mais recente é o sequestro, execução e esquartejamento de uma jovem dentro de um conflito que a facção trava com o Bonde do Maluco (BDM).